Entrevistas a Anand, Topalov, Polgar, Shirov…

As opiniões da equipe do Xadrez Total (e convidados) sobre o livro “Claros y Oscuros. Detrás de los Genios. Entrevista a los mejores ajedrecistas” do MF Daniel Perchman.

Interessados em adquirir o livro podem entrar em contato por telefone ou via WhatsApp: 11 99881.9630

As notas obedecem uma tabela de fonte de cores, para que o leitor identifique as opiniões de forma clara.

Tabela de cores:
Árbitro Internacional Mauro Amaral – Proprietário do Xadrez Total, diretor da CBX e VPT da FEXAP.
Professor MN AF Kleyton Lima – Professor e Secretário da Diretoria do Xadrez Total
Jéssica dos Anjos Januário – Doutoranda em Educação Física pela UNICAMP
AN Dr João Góis – Diretor de Patrimônio do Xadrez Total
Colaboração na revisão: Mestre Internacional Nahuel Diaz – Uruguai

Sobre o autor:
O MF Daniel Perchman Lereah é contador, foi campeão uruguio em 1991 e representou seu país nas olimpíadas de 1990 na Sérvia e 1994 na Rússia. Foi diretor da revista “Ajedrez Hoy” e autor de vários livros de xadrez, e outros temas.

Prefácio:
(Página 7)

Coube ao renomado jornalista espanhol e MF Leontxo Garcia escrever um brilhante prefácio. Ele discorre sobre a polêmica frase do autor espanhol Miguel de Unamuno ! 

Opiniões sobre cada entrevista:

Campeão Mundial GM Viswanathan Anand – Índia
(Página 9)

Chama a atenção a simplicidade do ex-campeão mundial. Ele cita suas partidas preferidas, e também as partidas que mais chamam sua atenção na história do xadrez !
Ele também opina sobre o trabalho do GM Ubilava, que foi seu segundo durante vários anos, e também é entrevistado no livro. 

O simpático e gentil ex-campeão mundial surpreende o leitor com sua postura humilde e visão simplista da vida. Eu já sabia um pouco sobre a pessoa do Anand e, entre os campeões mundiais, é um dos poucos da lista que admiro fora dos tabuleiros. Durante a entrevista, é nítido ver que o ex-campeão mundial segue as suas convicções não só dentro do tabuleiro, mas fora também!

Quando Perchman dá uma lista de jogadores e propõe que Anand encontre algum ponto em comum entre eles, este pontua muito bem, mas, deixa Judit de “escanteio”. Isso, sem dúvida alguma é algo que me incomodou muito porque haviam muitas características da Judit que se encaixariam perfeitamente na argumentação dele.

Levando em consideração a pessoa que o Anand é, acredito que ele não teve má intenção.

A primeira das entrevistas acontece com um campeão mundial cujos elementos que o fazem
feliz são estar com a família, escutar um pouco de música e passar o tempo bem e relaxado. É um
dos muitos jogadores descendentes de uma família com tradição de jogar xadrez, porém um dos 
poucos a quem a prática lhe fora primeiramente ensinada pela mãe. Em alusão à grande maestria
brasileira, neste ponto se assemelha a Henrique Costa Mecking.

Campeão Mundial GM Vaselin Topalov – Bulgária
(Página 17)

Outro ex-campeão mundial a ser entrevistado, dá sua opinião sobre os jogadores jovens que tem mais futuro no xadrez, e também sobre as diferenças entre o xadrez jogado pelos humanos e pelos softwares… 

Está é, sem sombra de dúvidas, a entrevista que menos gostei em todo o livro e a culpa disto está muito longe de ser do entrevistador, que faz perguntas excelentes e que, caso fossem respondidas com o mínimo de ânimo, agregariam muito a qualquer leitor.
Não há, em minha opinião nada de interessante nesta entrevista. O entrevistado não comenta quase nada sobre xadrez, suas respostas são sempre curtas e genéricas e o que mais me surpreende é o fato de um ex-campeão mundial ser incapaz de citar um único livro.

Diálogos curtos e respostas sintéticas caracterizam esta entrevista que, a despeito de ter um
roteiro estrutural semelhante às demais, logra menos êxito naquilo que conseguiu extrair de quem se
interroga. São vários os constrangimentos que podem levar a isso, de ambas as partes e da parte
formada pela relação entre entrevistador e entrevistado. Mesmo com respostas que não ultrapassam o
volume de uma linha, tem a virtude, entretanto, de ter sido realizada.

GM Axel Bachman -Paraguai
(Página 23)

Este jovem e simpático GM que mora na fronteira com o Brasil nos conta muitas curiosidades, e uma história divertida que se passou entre ele e o atual postulante ao título mundial, o GM russo Yan Nepomniaschi !
Ele também fala bastante de futebol, inclusive com uma polêmica declaração comparando o xadrez e este esporte…!
Também nos enche de orgulho o fato de que quando foi campeão do Floripa Open 2017, jogou com a camisa do Xadrez Total ! 

O livro é sensacional e a sensação que tenho é de estar em uma montanha russa. Depois de ler uma entrevista decepcionante, em seguida vem esta que é uma das que mais gostei no livro.
O Grande Mestre paraguaio Axel Bachmann que já teve 2622 de rating FIDE, tem o perfil de um completo apaixonado pelo xadrez!
Com toda sua simpatia e ânimo para responder a Perchman, Axel não tem problemas em responder algumas perguntas polêmicas, contar boas histórias (inclusive uma delas é muito engraçada), falar sobre suas inspirações e suas opiniões sobre alguns jogadores.

Mas, o que me surpreendeu e até me decepcionou é que a maior paixão de Bachmann não é o xadrez. Muitas pessoas ao descobrirem talvez não fiquem tão chateadas quanto eu e talvez até mesmo passem a admirá-lo ainda mais.

Deixe nos comentários o que você acha que é a maior paixão dele.

A primeira aparição de um latino na obra traz, como produto, uma farta conversa cuja
duração excedeu a de um dia. É consciente de que a família fora a primeira instância que contribuiu
para a sua meteórica ascensão, mesmo antes de seus vários treinadores e pessoas que auxiliaram em
seu trajeto. Está também em sua fala a primeira menção do livro ao Brasil, materializada pela ocasião
do Campeonato Panamericano Sub-16 em Camboriú (2005), primeira vez em que subira ao pódio
após dez sistemáticas tentativas na competição.

Campeão Mundial 50+ GM Julio Granda – Peru
(Página 33)

Se precisarmos usar apenas uma palavra para descrever o lendário GM peruano, 99% dos enxadristas vão escolher “talento” ! Esta é a definição de todos os entrevistados sobre ele. Concordo, mas eu usaria também “simplicidade”.

A naturalização de seu talento é nítida em sua entrevista e, mais do que nela, no modo como
demais pessoas na obra a ele se referem. Perchman relata que a ele o xadrez fora como um “idioma
natural”, não obstante o fato de que aprendera antes mesmo de ler e escrever. No entanto, as marcas
de um manejo com a prática que não carregam o esforço deixam rastros de que, se não o seu, o
trabalho duro para que pudesse se dedicar a analisar e competir no xadrez foram feitos por sua
família. Enquanto a seus irmãos eram relegados os ofícios manuais do campo, a ele não os deixavam.
Teve, porquanto, condições privilegiadas de executar aquilo a que se propunha, o que demonstra
uma possível trajetória de ascensão familiar ao liberá-lo destas possíveis atividades. Está aqui um fio,
dentre vários outros, para compreender como a tecitura daquilo que se apresenta como natural se dá.
Para isso, entretanto, é necessária a sensibilidade de aprofundar-se nestes pequenos vestígios que, de
perto, têm pouco de ingênitos.

GM Eduardo Iturrizaga – Venezuela
(Página 43)

Este jovem GM – agora radicado na Espanha – está marcado na história do xadrez brasileiro, e também para nós do Xadrez Total ! Ele foi campeão do Continental das Américas 2019, realizado por nós, e o imenso troféu (que ele não conseguiu levar para a Espanha) foi autografado e ficou para nossa imensa galeria de troféus ! 
Na entrevista ele faz comparações entre o xadrez e o tênis, e cita suas partidas favoritas ! 
Agora ele representa a Espanha. Um duro golpe para o xadrez e o esporte da Venezuela… 

GM Iturrizaga com imenso troféu do Continental 2019 !

A paixão pelo tênis do entrevistado, para além do xadrez, recorda o quão gostos como estes
representam um conjunto de práticas em posições homólogas no espaço social com características
que semelhantes entre si. Há, entre o xadrez e o tênis, o uso de toda uma indumentária, o
distanciamento, regras de etiquetas implícitas, a predileção pelo silêncio, dentre outros aspectos que,
se sociologicamente analisados, apontam para um gosto de classe. O material empírico de quase
trezentas páginas de entrevistas desta obra, inclusive, suscita a quem pesquisa sobre xadrez a
necessidade de análise.

Campeã Mundial GM Judit Polgar – Hungria
(Página 49)

Sem dúvida uma das melhores entrevistas do livro, desta que é considerada pela grande maioria como a maior jogadora da história do xadrez mundial ! 

Judit, tal como suas irmãs Susan e Sofia, são a refutação de uma dupla crença amplamente
difundida entre enxadristas. A primeira, chauvinista, segundo a qual a elite não seria um espaço em
que as mulheres seriam capazes de competir. A segunda, inatista, considera que a genialidade seria
formada por dons predestinados. Cientificamente, a história das irmãs Polgár encontra respaldo em
uma infinidade de evidências empíricas que confirmam a máxima de Friedrich Nietzsche (2000, p.
124): “a atividade do gênio não parece de modo algum essencialmente distinta da atividade do
inventor mecânico, do sábio em astronomia ou história, do mestre na tática militar. Todas essas
atividades se esclarecem quando imaginamos indivíduos cujo pensamento atua numa só direção, que
tudo utilizam como matéria-prima, que observam com zelo a sua vida interior e a dos outros, que em
toda a parte enxergam modelos e estímulos, que jamais cansam de combinar os meios de que
dispõem. Também o gênio não faz outra coisa senão aprender antes a assentar pedras e depois
construir, sempre buscando matéria e sempre a trabalhando. Toda atividade humana é
assombrosamente complexa, não só a do gênio: mas nenhuma é um milagre.”

MF Leontxo Garcia – Espanha
(Página 57)

O famoso jornalista espanhol nunca cita seu título FIDE como jogador, mas ele tem um rating FIDE “congelado” de 2295, e também faz parte da Comissão de Xadrez Educacional desta entidade. 
Em sua entrevista, ele conta histórias fantásticas sobre Kasparov, Karpov, Polgar, opina de forma direta e polêmica sobre Fischer, e sobre as vantagens (só para europeus, aqui na América do Sul é muito perigoso…) de morar na fronteira entre dois países. 
Você já imaginou ver um campeão mundial chorando ?! 

A entrevista que mais me agradou em todo o livro, sumariamente, pela centralidade que dá à
educação enquanto mecanismo capaz de reduzir determinadas desigualdades neste esporte, tal qual a
entre gêneros sobre a qual foi questionado. Expressa com clareza que há disparidade entre a oferta de
oportunidades dada ao enxadrismo entre meninos e meninas. Discorre, em longo prazo, sobre como 
isso influi para que esta seja uma modalidade de reserva masculina. Muito apropriadamente fora
apresentada logo após a entrevista de Judit Polgár, reforçando o quão o sucesso enxadrístico pode
encontrar vias de ser um pouco mais equânime desde que de forma muito tenra construído por vias
educacionais preocupadas com este mote.

Campeão Mundial Sub-16 GM Alan Pichot – Argentina
(Página 67)

Este jovem GM, um jogador fantástico, mas ainda muito imaturo. Coleciona polêmicas fora dos tabuleiros, e me dá a impressão que não gosta do Brasil. Que ele não gosta deste que vos escreve, está bastante claro… 
No Continental das Américas 2019, ele saiu de madrugada pelo perigoso centro de São Paulo e teve seu celular furtado. No dia seguinte, postou no Facebook o ocorrido, mas sem esclarecer o local exato e o horário, e muitos pensaram que este lamentável fato havia ocorrido dentro do hotel do torneio…! Uma desinformação que prejudica o hotel e a incansável organização do evento ! 
Recentemente ele publicou em suas redes sociais que pretende mudar sua bandeira da FIDE e não mais jogar pela Argentina. Para o patriota povo argentino deve ter sido um duro golpe.
Infelizmente o jovem GM, respondendo perguntas ainda não tem a mesma criatividade que demonstra nos tabuleiros… 

Reforça a tese de que a família é um aspecto decisivo para que se possa dedicar ao xadrez
com certa tranquilidade. Psicologicamente, nos diz sobre um fato que é estrategicamente dissimulado
pela maioria, quer seja, a própria dissimulação de pensamentos e sentimentos que um enxadrista
opera durante uma partida. Pelo teor do título, me despertou extrema curiosidade a sua indicação
pelo livro “El éxito no llega por casualidad” de Lair Ribeiro.

MI e WGM Sabrina Vega – Espanha
(Página 77)

Esta que talvez seja a melhor jogadora nascida na Espanha em todos os tempos conta sobre o projeto em um servidor de xadrez na internet, e detalha seu maior feito esportivo, a vitória sobre o campeão mundial Anatoly Karpov ! Uma entrevista bastante leve e divertida. 

Uma das poucas entrevistadas que fora a primeira de sua família a aproximar-se do universo
enxadrístico, feito possível por meio do contato com um centro de atividades extracurriculares que
sua irmã frequentava. Reforça o lema “gens uma sumus” da federação internacional que rege a
modalidade ao mencionar a “nuestra pequeña gran familia dentro del ajedrez, donde cada uno tiene
un carácter y uma personalidade diferentes, pero todos aportamos esse punto distinto. Creo que
todos somos mejores cuando estamos juntos”

Campeão Mundial (Sub-20 em 1953) Oscar Panno – Argentina
(Página 87)

Considerado por muitos como o maior jogador nascido na Argentina em todos os tempos. Confesso que é um dos meus ídolos, e tenho muito orgulho de estar em sua biografia, com uma história muito engraçada que envolveu também um GM brasileiro… 
Esta lenda viva do xadrez mundial fala sobre Fischer, torneios lendários, seu maior rival, o GM Najdorf, e conta muitas histórias divertidas ! 

Entrevista a um dos expoentes do xadrez argentino, o qual compartilha canais de
comunicação ativos nesta pandemia e parcerias de aulas com grandes nomes de seu país, ao exemplo
do MI Nahuel Diaz Hollemaert. Em relação à preferência por pinturas universais, Panno é mais um
dentre várias das personalidades contempladas pelo livro a elencar a obra “Las meninas”, de
Velásquez, como uma de suas preferidas.

GM Pepe Cuenca – Espanha
(Página 97)

Imagine uma partida de xadrez blitz narrada como se fosse futebol… 
Esta é uma das muitas habilidades do GM espanhol Pepe Cuenca. 
Este divertido GM a quem tive o prazer de conhecer na Argentina ao final agradece ao MF Perchman dizendo que esta foi a entrevista mais original que já fizeram com ele ! 

AI Mauro Amaral, MI David Martinez, GM Pepe Cuenca e GM David Anton em Buenos Aires, receberam de presente canecas do Xadrez Total !

Elogia a Perchman por ter feito a entrevista mais original que já teve a oportunidade de ter
contato, elogio devidamente considerado pelo autor da obra. É enfático ao considerar o xadrez um
esporte e grato pelo alargamento de horizontes que esta prática lhe proporcionou. Com ele, conheceu
o mundo, pessoas, culturas e países. Aponta, por fim, que tais riquezas lhe são de valor incalculável.

 

GM Miguel Illescas – Espanha
(Página 107)

Aqueles que são fãs do trabalho como treinador que o Grande Mestre Miguel Illescas desempenha, vibrarão com essa entrevista!
De maneira didática (o que mais esperar de alguém que treinou o Kramnik por oito anos?!), Illescas compartilha muitas informações sobre treinamento, partidas clássicas, opiniões pessoais sobre alguns dos maiores jogadores da história, grandes histórias e conta sobre alguns projetos que algum dia talvez sejam realizados.
Sem deixar de mencionar o trabalho na equipe do famoso computador Deep Blue, em sua própria escola de xadrez, a EDAMI (“Escuela de Ajedrez Miguel Illescas”), o Ajedrez21 e tantos outros cases de sucesso…! 

Como especialista, explica como poucos a próxima relação do xadrez com a tecnologia.
Discorre sobretudo acerca de sua colaboração com o lendário projeto Deep Blue. Hoje em dia, em
analogia que considera a humanidade e a máquina, alude que a corrida seria, respectivamente, entre
um corredor e um veículo. Concluí que o xadrez usa a tecnologia, a ela se adapta, mas também
sobrevive e impõe a sua personalidade, aspecto que o torna permanentemente fascinante.

GM Andrés Rodriguez – Uruguai
(Página 119)

Em continuidade a Miguel Illescas, Andrés afirma que não importa o que diga o campeão do mundo ou qualquer jogador comum: a verdade passa pelo que diz o computador. Segundo ele, isto implicaria em uma revisão histórica em todo o xadrez enquanto ponto de inflexão da prática. Cita o imponente Floripa Chess Open como o seu torneio favorito. Para ele, o xadrez é uma grande paixão pela qual se tem ou não, como se de algo imutável – e não cultivado – se tratasse.

A entrevista com este polêmico GM uruguaio é bastante interessante. Temos que saber separar a pessoa do GM. Suas recentes críticas políticas (do xadrez na América) tem um tom bastante parcial e tendencioso…. Nosso único ponto convergente é sobre nossos torneios favoritos… 

GM Gilberto Milos – Brasil
(Página 128)

O GM Milos é muito querido pelos brasileiros. Que um livro tão importante tenha dois GMs brasileiros é uma honra para nosso país. O MF Perchman me contou que na Olimpíada de 1990 na Sérvia, sempre que acabava sua partida, ia assistir ao Milos jogar ! 

O GM MIlos em palestra no Xadrez Total em 2015. Ao seu lado, a professora Natália Baccarin.

É a primeira aparição de um jogador brasileiro na obra, o qual tem no autor do livro um de
seus fãs. É enfático ao privilegiar o resultado de um confronto enxadrístico em detrimento de sua
beleza, o que se relaciona ao fato de que o xadrez é, para ele, uma profissão. Tem claro que a maioria
de tudo o que conseguiu foi graças a esta prática, seja por meio de seus torneios, de estudos e das
aulas que ministra. Relata o grande prazer pela atividade específica de jogar, tendo a sorte de
conciliar esta satisfação ao seu trabalho.

GM Carlos Matamoros – Equador
(Página 133)

Em uma conversa, quase que filosófica, o Grande Mestre equatoriano explana muitos pensamentos pessoais sobre algumas questões que estão sempre presentes nas discussões sobre xadrez. Além disso, a conversa também é uma apresentação da cultura do xadrez equatoriano, e  quem melhor para falar sobre isso do que o primeiro Grande Mestre da história do país?!

Conheci Matamoros quando ainda era MI em Cuba. Sempre se mostrou uma pessoa de muita cultura e com grande amor ao xadrez ! 

Primeiro expoente da grande maestria equatoriana, se destaca pela clareza da resposta em
relação à pergunta sobre as razões que considera para que os melhores enxadristas sigam,
atualmente, sendo homens. Sua fala remete à necessidade de uma equipe interdisciplinar de
psicólogos, antropólogos, sociólogos e neurocientistas, o que aponta para o fato de que esta é uma
questão passível de ser abordada por várias especialidades distintas

WGM Claudia Amura – Argentina
(Página 143)

A entrevista mais emocionante do livro. A famosa WGM contou detalhes tristes de sua vida, conta histórias e dá uma declaração surpreendente (e que eu particularmente, adorei !) sobre o GM Oscar Panno ! Fala também sobre sua família, já que é casada com o GM mexicano Gilberto Hernandez, e o envolvimento de seus filhos com o jogo.

Uma das poucas entrevistas que deixam claro o fato de que a pessoa é oriunda de uma origem
popular. Isto posto, adicionam-se os obstáculos enfrentados por ser mulher mas que, de acordo com
Claudia, foram sempre enfrentados com o apoio familiar. Seus filhos jogam, um deles é árbitro e
xadrez é um assunto cotidiano em sua casa. Se autodenomina um produto da escola Panno. Quando
questionada por lances que a incitam por sua beleza, cita uma partida da máquina AlphaZero,
ressaltando que atualmente computadores superam tudo aquilo que é pensado e também o não
pensado. Ao findar uma entrevista repleta de sentimentos, Claudia conclui que xadrez é a sua vida,
sempre foi e seguirá sendo.

GM Alonso Zapata – Colômbia
(Página 153)

Alonso Zapata é o tipo de jogador que é competitivo por natureza! Capaz de guardar com carinho suas conquistas de torneios escolares no mesmo lugar da sua vitória contra Anand e contra Tal, empate contra Topalov e até mesmo ter conquistado uma posição fora da zona de conforto do Ex-Campeão mundial Karpov!
Além disso, a entrevista é uma imersão na cultura do xadrez colombiano. Zapata não desperdiça uma linha sequer quando ganha espaço para falar dos grandes jogadores do seu país que tem lutado para que o xadrez cresça em um lugar que ainda não tem tanta popularidade.
Este, com toda certeza, é um exemplo de jogador com garra e humildade!

Em inúmeros torneios onde tive a oportunidade de conversar com o GM colombiano em diversos países, me recordo sempre de conversas muito proveitosas sobre xadrez e outros temas. 

Questionado sobre como começou a sua paixão pelo xadrez, Alonso relata que enfrentara um
ambiente não muito propício para que a sua progressão nos torneios se desse de forma mais
facilitada. Incita a quem lê, assim, a continuidade de uma pergunta que questionasse sobre os
porquês ou, ao menos, acerca de quais seriam estas barreiras enfrentadas. Entretanto, o roteiro de
questões segue sem maior aprofundamento sobre este dado. Quando viaja, relata que gosta de
frequentar museus, indicador este de acúmulo de certo capital cultural.

GM Aleksa Strikovic – Sérvia
(Página 163)

Este GM e renomado treinador nos conta curiosidades sobre a antiga Iuguslávia, URSS, livros de xadrez, treinamento, sobre o lendário Gligoric e muito mais ! 

Esta é uma entrevista cujo foco se dá no contexto sociocultural do enxadrismo na União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e sua influência sobre países a ela adjacentes. Nascido e
cultivado em meio a esta circulação privilegiada da modalidade nestas localidades, é surpreendente
que Aleksa denomine-se autodidata, isto é, com influências ínfimas sobre seus primeiros
aprendizados

GM Sandro Mareco – Argentina
(Página 171)

Mareco é um GM muito querido pelos brasileiros. Jogou dezenas de torneios aqui nos últimos anos. Sua mulher é a nossa amiga brasileira Rauanda Schultz, e eles tem um filho que se chama Rafael Valentin. 

GM Mareco antes de uma palestra no Xadrez Total

É um dos poucos em que as disposições enxadrísticas se deram principalmente pela via
escolar, tal qual o caso do brasileiro Evandro Amorim Barbosa. Contou com relativa liberdade da
família para dedicar-se ao que gosta, apontando o Brasil como um bom lugar para se viver e visitar.
Tem claro que o objetivo de cada geração do xadrez é evoluir o jogo em relação àquela que a
precede. Tive a oportunidade de compartilhar, enquanto treinadora, espaços de competições
universitárias com a sua esposa Rauanda Schultz

GM Carlos Garcia Palermo  – Argentina / Itália
(Página 179)

Considero o GM argentino-italiano com uma mistura de ídolo e amigo. Das lembranças do apartamento que ele me emprestou em Buenos Aires, dos torneios que convivemos no Brasil, Argentina e Rússia, são muitos bons momentos de conversa e diversão. 
No livro, ele cita que está “um pouco cansado de ser conhecido como a pessoa que derrotou Karpov e Fischer” mas a pergunta que fica é: Quantas pessoas no mundo podem dizer isto ?! [risos] 

É surpreendente como o entrevistado não aponta as suas vitórias contra Robert James Fischer
e Anatoly Evienvich Karpov entre as partidas de sua preferência ao longo da vida. Quando
questionado sobre o que faria se pudesse voltar no tempo, entretanto, declara que se dedicaria a esta
prática com ainda mais intensidade.

GM Alejandro Hoffman – Argentina / Uruguai
(Página 187)

Este GM argentino radicado no Uruguai a quem conheci em um torneio em Santos-SP fala de tudo um pouco, mas não economiza palavras quando fala dos jovens talentos uruguaios. Imagino a reação destes quando lerem o livro… 

Alejandro enfatiza o clima amistoso vivenciado no interior dos clubes de xadrez, definindo
esta prática como o esporte perfeito. Para ele, esta qualidade pode ser alcançada devido ao fato de
que o enxadrismo é muito completo, muito justo e, finalmente, não admite o azar

GM Jesus Nogueiras – Cuba
(Página 195)

Uma lenda do xadrez cubano. Intenso e polêmico, o GM Nogueiras mostra sua face em uma entrevista muito interessante. Estive em sua casa, na minha cidade favorita em Cuba para uma conversa de horas, muito interessante e inesquecível ! 

A entrevista de Jesús aponta para a importância do estudo de predecessores por campeões
mundiais que intentaram este feito. Para além, tem um tom saudosista ao tocar no fato de que se
ressente de relações atuais, bem como sofrera muito com algumas de suas separações.

MI Bernardo Roselli – Uruguai
(Página 203)

O forte MI uruguaio cita como seu aluno mais talentoso o também uruguaio Nacho Etchevers. Com este tenho uma história engraçada: No Pan-Americano Sub-20 no Brasil em 2003, onde eu tive a honra de atuar como chefe de delegação do Paraguai, Nacho fez uma aposta que envolvia o resultado de sua partida da última rodada. Perdeu a aposta e teve que pular de roupa e tudo na gelada piscina do hotel !
Também estou ansioso para ler o livro publicado pelo MI em questão ! Já o encomendei. Esperando chegar.

A entrevista de Daniel é fruto de meses de diálogo entre ele e o autor do livro e, por
consequência, também é uma daquelas em que é visível tamanha dedicação em relação às respostas.
É incrível o seu poder de síntese e em como o faz relatando um resumo histórico de como o xadrez
evoluiu ao longo de seus principais pontos de inflexão nas últimas décadas.

GM Alexei Shirov – Letônia / Espanha
(Página 211)

Nunca tinha lido algo da parte dele sobre a “tragédia” de Cazorla. Talvez tenha sido a primeira vez que se publique sobre este tema que mudou os rumos do xadrez mundial !!! 

Mais um dos feitos de Perchman se materializa nesta entrevista, a qual foi realizada por
telefone. Fico imaginando o que seria da mesma com o ganho em empatia e proximidade da
possibilidade física de sua execução. Alexéi confessa que se ressente por não ter disputado o
campeonato mundial, e isto mesmo se classificando e tendo por direito esta chance. Me lembro de
sua presença imponente em uma das edições do Floripa Chess Open.

GM Shirov x Mauro. 2017.

GM Elizbar Ubilava – Geórgia
(Página 219)

Uma das entrevistas mais longas do livro, e não sem razão. O experiente treinador georgiano (país onde hoje vive o GM brasileiro Alexandr Fier) tem muito a nos ensinar. 

Ubilava descreve a responsabilidade de cumprir, como se fosse uma profecia, as esperanças
que a ele eram depositadas. Relata que um gênio pode nascer em qualquer país e que não há regras
para o alcance do sucesso enxadrístico, muito embora haja páginas deste livro que apontem para
facilitadores em relação aos condicionamentos sociais e culturais vivenciados por figuras renomadas
neste esporte. Define xadrez como um jogo nobre.

GM Osvaldo Zambrana – Bolívia
(Página 231)

Quando completou 23 anos e ainda era MI, o simpático GM boliviano estava jogando um Magistral de Norma de GM por mim organizado. Fizemos um bolo e uma pequena festa surpresa para ele ! Aqui estão os detalhes e fotos

Zambrana, ainda MI, em seu aniversário de 23 anos, organizado pelo AI Mauro Amaral, em Osasco-SP

Para ele, a grande maestria foi um sonho concretizado em vida. Uma curiosidade é o fato de
que Rafael Leitão foi lembrado enquanto jogador cuja qualidade posicional Osvaldo roubaria, assim
como um amigo que convidaria para fazer parte de uma celebração.

WGM Vivian Ramón – Cuba
(Página 239)

Uma das mais fortes jogadoras da América em todos os tempos, nove vezes campeã cubana e disputou muitas Olimpíadas, e também fez história no xadrez brasileiro, pois passou vários meses por ano durante mais de 20 anos, jogando torneios e dando aulas ! 
Eu a considero minha “madrinha” no xadrez, pois muito contribuiu para a minha formação enxadrística ! 
Ela conta que deu o nome de um campeão mundial ao filho, e muitas outras curiosidades sobre o xadrez em Cuba ! 

Placa de um torneio ainda nos anos 1990. A WGM cubana passava muito tempo no Brasil !

Vivian é uma entrevistada com relação próxima com o Brasil, quer seja pelas inúmeras
passagens por aqui enquanto jogadora, quanto pelas amizades durante elas cultivadas, ao exemplo da
WIM Joara Chaves. Como locais sobre os quais se recorda de forma saudosista, cita as cidades de 
São Paulo e de São Caetano do Sul. Concluí a sua fala com o interessante apontamento de que o
xadrez teria uma essência, e esta seria a de pensar e de produzir pensamento.

Campeão Mundial (Sub-10 e Sub-18) GM Rafael Leitão – Brasil
(Página 247)

Muito feliz de ver nosso país repreentado por dois GMs. A entrevista do GM Leitão é imperdível. Ele nos conta sobre sua carreira, títulos, curiosidades, e dá uma polêmica opinião sobre política… 
Também fala sobre seu sonho de treinar um jovem talento desde o começo, e implantar sua filosofia de xadrez. 

Rafael demonstra, para mim, uma das posturas mais assertivas e necessárias não só por parte
de enxadristas de alto rendimento, mas de atletas em geral na atualidade. Manifesta claramente o seu
posicionamento em relação ao governo e não nos deixa esquecer o fato de que viver, por si só, já é
um ato político. Faz uma interessante confissão sobre a vontade de viajar o mundo sendo analista de
algum talento por ele treinado, não descartando o desejo de que entre estes pupilos estejam, por
exemplo, um de seus filhos.

GM Manuel Perez Candelário – Espanha
(Página 255)

Um dos mais fortes jogadores da Espanha na atualidade, este GM nos conta sobre a convivência com Carlsen quando este tinha apenas 13 anos, pois jogaram na mesma equipe na Espanha. Sobre seu trabalho com Shirov, e a convivência com parte da elite do xadrez mundial. 

Manuel aponta para a cada vez maior precocidade com que jovens alcançam a maestria na
modalidade. Para além, faz uma interessante explicação sobre como a postura corporal e todos os
símbolos que o corpo carrega influem como fator psicológico durante o âmbito de uma partida.
Mesmo em silêncio, o entrevistado nos ensina o quão o corpo, no xadrez, também pode falar.

MI Daniel Rivera – Uruguai
(Página 265)

Ir lendo as entrevistas em ordem cronológica (exatamente como fiz) é quase como ler uma biografia do mestre Rivera. Quase todos os entrevistados anteriores o citam !
Este fato gera uma curiosidade imensa sobre este MI que emigrou para a Espanha em 1987, mas mantém laços muito fortes com seu país natal. Sua entrevista é uma aula de história sobre o xadrez uruguaio. Imperdível ! 

A entrevista de Daniel é fruto de meses de diálogo entre ele e o autor do livro e, por
consequência, também é uma daquelas em que é visível tamanha dedicação em relação às respostas.
É incrível o seu poder de síntese e em como o faz relatando um resumo histórico de como o xadrez
evoluiu ao longo de seus principais pontos de inflexão nas últimas décadas.

Antonio Gude – Espanha
(Página 281)

Considero Gude um dos melhores escritores de xadrez de todos os tempos ! Seu livro sobre o Xadrez de 1900 a 1960 é uma obra prima. Também uso em minhas aulas no Xadrez Total, seus livros Escola de Xadrez e os cadernos de exercícios
Para quem é fã do Karpov, sua entrevista é um prato cheio !
Ele escreveu uma resenha sobre o livro onde critica a entrevista de um dos personagens mais queridos da história do xadrez…! O link para o texto dele está no final do texto. 

Gosto especialmente da pergunta de Perchman a Antonio sobre uma entrevista que gostaria
de fazer e uma segunda que gostaria de ler. Quando questionado sobre perguntas que faria a
Capablanca, Fischer, Kasparóv e Carlsen, Antonio esbanja cultura e perspicácia, bem como
demonstra o porquê é considerado um dos maiores escritores da modalidade enxadrística.

MI, WGM e FT Olga Alexandrova – Ucrânia / Espanha
(Página 291)

Desta entrevista destaco sua mudança de vida entre dois países tão diferentes como Ucrânia e Espanha, seus títulos e diferença entre o xadrez nestes páises, e uma detalhada comparação entre a hungara Judit Polgar e a chinesa Hou Yifan. 

 

Curiosidades:

O autor faz aniversário no mesmo dia de um dos entrevistados ! Se você sabe qual, comente abaixo ! 

Cada jogador ocupa simbolicamente uma casa no tabuleiro. O GM Shirov ocupa a casa a3 por causa de seu genial lance Bh3 (!!) em sua famosa partida contra Topalov. 

Na parte de agradecimentos (Página 299), um famoso enxadrista brasileiro é citado por sua colaboração. Por enviar fotos e dar opiniões sobre os entrevistados. Comente abaixo se você sabe quem é ele ! 

Sobre a Argentina
Devido à proximidade entre este páis e o Uruguai – país do entrevistado – e com nada menos do que seis entrevistados nascidos neste páis, é natural que muito se fale sobre o xadrez argentino no livro. 
Na Argentina, os enxadristas basicamente se dividem entre as “escolas” e “torcidas” pelos GMs Panno e Najdorf. O Livro explica sobre isto, indiretamente através das palavras de seus entrevistados… Sempre torci por Don Oscar, e é muito interessante ler a farta opinião sobre eles por parte dos entrevistados. 

Dois personagens entrevistados no livro formam um casal. Se você sabe qual, comente abaixo ! 

Veja a resenha do famoso escritor Antonio Gude sobre o livro ! 

Referências bibliográficas

JANUÁRIO, J. A herança na trajetória esportiva de grandes mestres brasileiros: processos
educacionais e esportivos de formação de uma elite cultural. 2017. 552 p. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2017.

LEREAH, D. P. Claros y oscuros: detrás de los genios. Montevideo: Mastergraf, 2021.

MARQUES, R. F. R.; JANUÁRIO, J. A. El talento deportivo desde una perspectiva sociológica:
reflexión sobre la oferta de oportunidades de aprendizaje y la influencia de la herencia cultural.
Revista de Ciencias Sociales, v. 27, p. 77-100, 2019.

NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.

PETERS, G. O método na loucura (2): Mozart, Karajan e por que jogar xadrez desenvolve a
capacidade de jogar xadrez. Blog do Sociofilo, 2016.

PIOTTO, D. C. Igual, interlocutor ou amigo? Uma discussão sobre a relação pesquisador-pesquisado
na utilização de entrevistas. Revista Tempos e Espaços em Educação, v. 6, p. 101-110, 2011

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