Entrevista com a WIM Tatiana Ratcu
O portal Xadrez Total publica entrevista exclusiva com a WIM Tatiana Ratcu
Uma entrevista que pode mudar os rumos do xadrez feminino brasileiro !
WIM Ratcu afirma que pensa em voltar a jogar xadrez:
“Adoraria jogar uma Olimpíada de Xadrez novamente!”
Por AF Vivian Heinrichs e Guilherme Moraes
Nome: Tatiana Ratcu
Título: WIM
Rating: 2259
Xadrez Total: Como se deu sua evolução no Xadrez? Com quantos anos começou a jogar e quem foram seus treinadores?
WIM Tatiana Ratcu: Eu aprendi a mexer as peças com meu pai quando tinha uns cinco anos. Ele sempre foi apaixonado pelo jogo e meu maior incentivador. Em 1991, com 12 anos comecei a jogar meus primeiros campeonatos e levar o Xadrez mais a sério. Tive a oportunidade de conhecer o MI Jefferson Pelikian nesta época que me ofereceu uma vaga para treinar com ele no Clube Paulistano, local reconhecido como o núcleo do Xadrez juvenil. O Pelikian foi meu treinador por toda minha carreira e devo a ele muito do que conquistei nos tabuleiros. Também tive aulas com o GM Gilberto Milos no último ano antes de eu parar de treinar que me ajudaram muito no aprimoramento do jogo.
Minha evolução no Xadrez se deu de forma muito rápida. Em 1992, apenas um ano após começar a treinar para valer, eu fui campeã brasileira sub-16. Fui para a Alemanha representar o Brasil pela primeira vez em um campeonato mundial (naquela época apenas o campeão nacional e panamericano se classificavam para o mundial). Apesar de terminar o torneio nas últimas colocações, eu fiquei ainda mais encantada com o jogo e resolvi que queria ser a melhor jogadora do país.
A partir de então, eu comecei a treinar umas cinco horas por dia praticamente todos os dias da semana e jogava campeonatos de fim de semana. Todo este esforço e dedicação foram recompensados quando me tornei a mais nova campeã brasileira em 1994 com apenas 14 anos.
Xadrez Total: Como foi tomada a decisão de parar de jogar, e quanto tempo tardou para você colocar em prática esta decisão.
WIM Tatiana Ratcu: Parar de jogar não foi de forma alguma uma decisão fácil. Quando terminei o Ensino Médio em 1996 (com 17 anos), resolvi me dedicar totalmente ao Xadrez. Cheguei até a morar na Europa por um tempo para experimentar a vida de enxadrista profissional.
Na década de 90, o Xadrez feminino no Brasil não tinha o apoio que tem hoje e percebi que era complicado me sustentar financeiramente com o jogo, dado que dar aulas não era minha prioridade. Além disso, eu viajava demais e achava muito difícil conciliar cursos, relacionamento ou qualquer rotina com a vida de enxadrista.
Em 1999 parei de treinar para fazer cursinho pré-vestibular. Em 2000 comecei o curso de administração de empresas na USP e foi meu último ano como enxadrista profissional, pois percebi que não seria possível fazer ambos de forma bem feita. Depois de entrar na faculdade, apenas joguei algumas poucas competições universitárias e informais.
WIM Ratcu com o marido Fabiano, em Sidney, Austrália
Xadrez Total: Você deteve recorde de maior rating da história do Xadrez feminino brasileiro por onze anos, recorde esse superado apenas recentemente na Olimpíada de Xadrez em Istambul, pela WFM Vanessa Feliciano, que com seu desempenho na competição, chega agora aos 2268 FIDE. Comente-nos sobre isso.
WIM Tatiana Ratcu: Eu sempre tive curiosidade de saber quem seria a primeira jogadora a superar o meu rating FIDE. Eu achava que seria até mais rápido dos que os onze anos que se passaram, dado a qualidade da nova geração de jogadoras e o fato de haver mais competições que valem rating FIDE no Brasil atualmente. Fiquei feliz com a notícia de que a Vanessa teve uma atuação espetacular na Olimpíada conquistando a norma de WGM e acrescentando mais de 30 pontos de rating. Torço muito para que ela e outras brasileiras elevem o nível do Xadrez nacional. Seria um sonho ver o Brasil no topo do Xadrez feminino mundial.
Xadrez Total: Em 2011 você jogou uma simultânea, que teve por objetivo fins de caridade. Explique-nos mais os detalhes sobre essa simultânea, onde ela foi realizada, e quem organizou.
WIM Tatiana Ratcu: A simultânea foi em Sydney, Austrália, na empresa em que trabalho chamada The Commonwealth Bank of Australia (maior banco australiano). Todo mês, uma área diferente do banco é responsável por organizar um evento de caridade com intuito de arrecadar fundos para instituições não governamentais.
Algumas pessoas da minha equipe de trabalho sabiam que fui campeã brasileira de Xadrez e perguntaram se eu toparia fazer uma simultânea. Acabei jogando contra 10 pessoas e ganhei todas as partidas. Fiquei um pouco apreensiva antes do evento porque havia muito tempo que eu não tocava nas peças. Cheguei a jogar partidas na Internet em preparação e aos poucos comecei a lembrar dos velhos tempos.
Simultânea na Austrália em 2011
Xadrez Total: Tendo conquistado o Campeonato Brasileiro em cinco oportunidades, você destaca algum destes títulos em especial, pela forma com que foram jogados, partidas memoráveis ou fatos acontecidos durante a competição?
WIM Tatiana Ratcu: Acho que um fato memorável foi, realmente, o de ter sido a mais nova campeã brasileira de todos os tempos. Eu tinha apenas 14 anos de idade quando ganhei o torneio pela primeira vez. Lembro-me ainda hoje da sensação indescritível de ter conquistado o título mais importante do Xadrez feminino nacional tão nova, com tão pouco tempo de treinamento e depois de ter ficado entre as últimas colocadas na mesma competição no ano anterior (em 1993 fiquei em 15º entre 18 jogadoras). Naquele momento sabia que estava próxima do meu objetivo de ser a melhor jogadora de xadrez do país.
Além disso, ganhei cinco vezes (1994, 1995, 1996, 1997 e 2000) das seis vezes que joguei a competição (em 1998 estava morando na Europa e, em 1999, fazendo cursinho pré-vestibular). Quando voltei a jogar em 2000, depois de praticamente um ano afastada, achava que seria difícil vencer a competição e cheguei até a perder a primeira partida, mas depois fiz 6 em 6 e fiquei contente em fechar a minha participação em campeonatos nacionais com chave de ouro.
Xadrez Total: Quem eram suas melhores amigas no Xadrez? Continua mantendo contato com elas até hoje?
WIM Tatiana Ratcu: Estou morando fora do país há mais de seis anos, o que dificulta um pouco um contato mais constante com amigos e até com a família. O Facebook ajuda muito a retomar contatos antigos e recentemente tenho muitos amigos e até alguns fãs por lá. A Marina Ramos Toth é uma amiga com quem costumo falar regularmente e uma das pessoas que me incentivou bastante no começo da minha carreira. Também fiquei muito feliz em receber a visita da Natália Baccarin aqui na Austrália no ano passado e da WFM Bárbara Farhat no ano retrasado, nós pudemos relembrar dos tempos antigos e matar as saudades.
Brasil campeão mundial juvenil por equipes, no Rio de Janeiro
Xadrez Total: Qual sua opinião com relação ao desenvolvimento do Xadrez feminino no Brasil e no mundo.
WIM Tatiana Ratcu: Pelo que tenho acompanhado, o Xadrez feminino no Brasil tem passado por mudanças muito positivas. Soube que há mais apoio, melhores premiações e incentivos para as jogadoras de hoje quando comparado com a época que eu jogava nos anos 90. Também fico feliz em saber que tantos novos nomes estão surgindo e curiosa para receber a notícia de quem será a próxima jogadora a bater meu recorde de mais nova campeã nacional de todos os tempos.
Xadrez Total: Além dos já citados cinco campeonatos brasileiros, quais outros títulos conquistou?
WIM Tatiana Ratcu: Fiquei muito orgulhosa com a minha atuação na 2ª Copa Itaú Mercosul em 1998 em que fui co-campeã junto com o MI Carlos Alejandro Martinez. A competição contou com a participação de 97 jogadores e alguns deles mestres internacionais (mais detalhes no seguinte link: http://www.brasilbase.pro.br/ta1998si.htm). Eu estava no auge da minha carreira e comecei a obter bons resultados em competições absolutas.
Além disso, fui bicampeã pan-americana sub-16, campeã do zonal 2.4 da FIDE em 1995 (torneio que me garantiu o título de WIM aos 15 anos), muitas vezes campeã paulista e campeã brasileira de categoria (não lembro de todos os títulos). Dentre os campeonatos mundiais, meus melhores resultados foram a 8ª colocação no mundial sub-16 (empatada em 6º lugar), campeã mundial juvenil por equipes em 1998 e 7º colocada na Olimpíada de Istambul em 2000 (1º tabuleiro). Mais detalhes dos torneios que joguei no seguinte site: http://www.brasilbase.pro.br/jratcu.php
Xadrez Total: Como era a sua rotina de treinamentos?
WIM Tatiana Ratcu: De 1993 até por volta de 1998, eu treinava uma média de cinco horas por dia, a maior parte delas com o Pelikian, e costumava jogar de fim de semana. Quando estava de férias, chegava a estudar por umas 8 a 9 horas por dia. Também me lembro de ser tão “viciada” no jogo que minha mãe tinha de insistir para eu descansar, sair um pouco ou fazer qualquer outra coisa. Eu era apaixonada por Xadrez e queria jogar/treinar a cada oportunidade. Vale mencionar que minha mãe me acompanhou em muitas competições e viagens; ela e meu pai sempre me deram muito apoio e confiança.
Campeã do Zonal 2.4 da FIDE em 1995
Xadrez Total: Você pretende voltar a participar de competições? O que acharia de voltar a jogar uma Olimpíada pelo Brasil na companhia de Vanessa Feliciano e Juliana Terao?
WIM Tatiana Ratcu: Atualmente moro na Austrália e não jogo Xadrez profissionalmente desde 2000. No fim deste ano estaremos de mudança para a Coréia do Sul, onde pretendemos morar por dois a três anos devido ao trabalho do meu marido. Eu ainda não sei o que vou fazer por lá, mas talvez possa dar aulas de Xadrez e, quem sabe, até arriscar voltar a jogar.
Com relação a jogar uma Olimpíada novamente pelo Brasil, eu adoraria jogar ao lado dos mais novos talentos do xadrez feminino brasileiro, embora para mim vá ser bem difícil jogar as etapas do Circuito Pré-Olímpico da CBX por estar morando tão longe do Brasil.
Gostaria de parabenizar a Vanessa e a Juliana por todas as conquistas e por elevar o nível do Xadrez feminino nacional.
Peço vênia aos outros 6.999.999.999 de fãs, pois eu sou o número 1.
Parabéns pela entrevista. A Tatiana faz falta no xadrez brasileiro.
Ela esqueceu, no entanto, de mencionar sua boa participação no Aberto de Linares, então o templo do xadrez mundial, em 1998.
Estiveram lá cinco brasileiros, dentro os quais duas mulheres,
ela e a também WIM Regina Ribeiro. Eu joguei também e não fui bem, mas conhecer a Tatiana foi muito bom.
Parabéns pela entrevista!
Seria muito legal ver a Tatiana ao lado da Vanessa e da Juliana, acho que todos que gostam e torcem para o xadrez feminino gostariam de ver essa equipe jogar!
Realmente um espetáculo no xadrez e uma joia de menina.
Tati, adorei a entrevista. Lembro realmente quando você era muito viciada em xadrez.
Estou feliz em ver como você respondeu as perguntas e também sou sua fã.
Beijos querida.
Tati querida, sempre foi nossa campeã, mesmo depois que interrompeu as competições. Fiquei muito feliz com sua entrevista, vc é maravilhosa, está sempre em nossos corações. Seria muito bom que voltasse a competir, vai tentar ? Um grande beijo e até breve meu bem
Na conquista que a Tatiana destaca tem uma curiosidade, naquele torneio um dos grandes jogadores de hoje do nosso país aparecia com humildes 2.5 pts.
Hoje o rapaz é GM.
Excelente entrevista. Voltando a atuar, tenho certeza que reencontra a boa forma com que aterrorizava os oponentes, pois o talento é notório. Acho que todos os brasileiros têm curiosidade de como seria uma equipe com a Feliciano, a Terao e a Ratcu. Quem sabe…
Conheci a Tatiana, juntamente com seu irmão Fábio Ratcu, em 1993, 1994…
Por todo seu talento, uma das minhas maiores alegrias seria jogar numa mesma equipe ao lado da Tatiana.
Parabéns Tatiana pelo seu sucesso!
É com muito orgulho e saudades que venho por via dessa, tentar expressar o que a Tatiana foi para nós enxadrista da epoca, pois, somos da mesma geração e ela sem dúvida era nossa expectativa em quem sabe ser campeã mundial. Ainda Temos a esperança de ela voltar a competir.
Comumente, verificamos que quem possui potencial sempre vai possuir potencial. Exemplos: Kasparov, Anand e Mequinho.
Caso o Sr. Nelson seja o fã numero 1 como Pai, eu sou o fã numero 2
Saudades enxadristicas
Sucessos.
Luciano de Lima-Parapuã-SP
Ela não é só boa no xadrez ela é mestra como pessoa, muito humana, bondosa e simpatica, simplesmente brilha e cativa por onde passa, sim faz muita falta no xadrez, um grande abraço.
Ja vi a Tatiana em muitos torneios… Se não tivesse parado, hoje já seria GM…!!!
Além de linda e humilde, jogava muito!
Tive a oportunidade de jogar contra a Tatiana no dia 02/05/93, uma linda menina nos seus 14 anos e já famosa como enxadrista. Isso aconteceu no Clube Kolping aqui em São Paulo e…. e eu ganhei!!! O meu feito foi tão fantástico que plastifiquei a planilha e a preservo até hoje.