Entrevista com o GM Alexandr Fier
Nome: Alexandr Fier
Rating FIDE: 2571
Título: Grande Mestre
XadrezTotal: Com que idade você começou a jogar xadrez?
GM Alexandr Fier: Comecei a aprender quando tinha entre 3 a 4 anos. Eu era uma criança curiosa, e quando via meus pais brincando em casa, queria saber o que eles estavam fazendo. Acho que nessa época eu literalmente ‘jogava’ as peças… Mas depois que aprendi, peguei gosto, e nunca mais pensei em fazer alguma outra coisa da vida!
XadrezTotal: Quando alguém procura “Fier” na base de dados, encontra os nomes de Luciano e Leika, seus pais. Qual o interesse e nível deles no xadrez?
Fier: Meus pais jogam mais por diversão, minha mãe já chegou a jogar Jogos Abertos e deu aula de xadrez em escolas, quando morávamos em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. Meu pai chegou a ser campeão paranaense juvenil, e até hoje joga torneios quando consegue um tempinho. Esse ano, ele conseguiu por fim, completar os blocos de rating e saiu com 2017 de FIDE.
XadrezTotal: Quando percebeu que o xadrez seria realmente a sua profissão?
Fier: Como comentei antes, nunca pensei em ter outra profissão… Mas durante muito tempo, não tinha certeza se de fato ia conseguir viver só jogando. Os primeiros grandes torneios que consegui ganhar ajudaram a impulsionar essa ideia.
Mas a decisão definitiva veio justamente no Comunic, da pergunta abaixo!
Professor Wilson Silva entrega trof’eu a Fier, então com seis anos
XadrezTotal: Em 2004, após um bom tempo como inativo na FIDE, você fez sua primeira norma de MI no VI Magistral Comunic, fazendo 7,5 em nove, quando a expectativa para norma naquele torneio era de “apenas” seis pontos. Como foi a sensação de fazer sua primeira norma de MI, quando muita gente ainda não te conhecia?
Fier: Meu rating surgiu meio sem blocos… Até hoje não sei ao certo quais foram os torneios que me deram os 2205 que ganhei em 2002. Mais para o fim do ano, joguei o mundial sub-14 e ganhei 53 pontos indo a 2258. Depois disso, não joguei nenhum torneio valendo rating até o Magistral Comunic que foi na metade de 2004! E certamente não foi um torneio fácil de jogar… Vários fatores dificultavam a minha ida ao torneio e até o Mauro teve que ligar para a minha mãe! Depois de muita ajuda, e com muitas coisas dando certo, fui lá, sendo o jogador de menor rating e tendo expectativa de apenas 3,24 em 9 rodadas, se não me engano. Isso tudo sem saber muito como era jogar um torneio fechado. No final das contas tudo saiu muito, mas muuuito melhor do que o esperado, e veio a primeira norma! Além de 106 pontos de rating, graças ao meu K25. Logo depois, a Olimpíada me deu o título de MI, com uma explosão de 231 pontos em praticamente 3 meses. O xadrez virou a minha vida!
XadrezTotal: Como é sua preparação para as competições?
Fier: Bom, a preparação pros torneios é, em grande parte feita no dia a dia, estudando em casa: abertura, cálculo, finais, vendo as partidas importantes e um pouco de ICC também. Dentro do torneio em si, é quase um ritual: Abrir a base, procurar as partidas, ver as partidas recentes, mapear todo o repertório e tentar achar alguma coisa que, antes de me agradar, desagrade o meu adversário. Às vezes é aquela linha complicada que ele ganhou alguns anos atrás e pode não se lembrar bem, outras, um tipo de posição que ele joga há pouco tempo… Depois disso, aprofundar. Buscar as partidas da posição, entender até onde a teoria vai, procurar alguma idéia nova, algum plano diferente e fazer tudo isso funcionar. Normalmente com não só uma, mas duas ou três variantes que o cara joga. E sim… na graaaande maioria das vezes a preparação não entra na partida. Mas um dia…
XadrezTotal: Cite seus principais títulos.
Fier: A maioria dos meus títulos de nome, são nos torneios de categoria, depois que fiquei velho a vida é um pouco mais complicada… Mas vamos lá:
– Campeão Brasileiro sub-10, sub-12, sub-14, sub-16, sub-18, sub-20, de blitz e absoluto.
– Campeão Sul-Americano sub-20
– Campeão Pan-Americano sub-10, sub-12, sub-14, sub-18
– Vice-Campeão Mundial sub-10
– Campeão do Qualifier do 1o World Mind Sport Games
– Campeão do Aberto de Sants, na Espanha
XadrezTotal: Em 2005 conquistou o Brasileiro Absoluto, de forma invicta. Comente sobre esta importante conquista.
Fier: Esse foi meu segundo brasileiro, e o primeiro como torneio fechado com 12 jogadores. Jogaram dois GMs, Milos e Lima. Na época estava me sentindo em forma e fui acertando boas preparações. A segunda rodada, contra o Milos foi essencial pra eu sentir que tinha chances de lutar pelas primeiras posições.
XadrezTotal: Em novembro de 2009, você atingiu a marca de 2653, tornando-se o 1º do Brasil, e entrando no grupo dos cem melhores jogadores do mundo, figurando na 76ª posição. Como encarou isto, e o que está fazendo para voltar a este nível.
Fier: É muito diferente estar com 2650, do que com 2600 ou 2500 e altos… É importante conseguir escolher os torneios bons, com tempo pra preparar, e sentir que cada partida agora vale muito mais do que antes. Na época acho que a transição me pegou de surpresa e não consegui aproveitar a chance que tive. Agora o trabalho é árduo pra voltar a esse patamar, mas nada que não valha a pena! O caminho é simples: estudar que nem um condenado e cortar todas as cabeças que aparecerem na minha frente!
XadrezTotal: Qual principal fato marcou sua carreira enxadrística?
Fier: É difícil comentar um fato isolado, todo enxadrista tem dezenas de boas histórias pra contar… Acontece de tudo no xadrez! Vou me ater aos fatos dentro do tabuleiro… Seguindo um pouco a história da época de estar com os 2653, cheguei a esse rating jogando o campeonato espanhol por equipes, na “Liga de Honor” que é uma das mais fortes da europa. Senti que dava pra ir longe, que dava pra ser um dos top, quando enfrentei em seguida, em duas partidas tensas e complicadas que terminaram em empate. Estar jogando com os 2700 e enfrentando com unhas e dentes é quase uma luta pela sobrevivência!
MI Berardino e os GMs Fier, Diamant e Krikor, na Europa
XadrezTotal: Dentro de alguns dias, você embarca para mais uma temporada na Europa, irá participar de cinco torneios. Como está sendo sua preparação para estes torneios, e quais as suas expectativas?
Fier: Dia 22 de janeiro, embarco para a Europa, pra jogar 4 torneios pensados, e mais alguns rápidos e blitz, bem fortes também. A principal diferença dessa viagem pras outras que eu fiz pra Europa, é que não tem nenhum torneio mais tranquilo!
Começo jogando Gibraltar, junto com o El Debs, onde sou número 32 mais ou menos. Nesse torneio jogam nomes como Ivanchuk, Adams e Caruana. É um torneio em que o desempate pro campeão é no tabuleiro mesmo, o que dá uma vontade extra de fazer os pontos todos…
Depois Aeroflot, em Moscow. O sonho e o pesadelo de vários jogadores!
O torneio “A” tem como rating mínimo 2550, com algumas exceções e todos os jogadores podem te acertar uma super preparação ou algum sacrifício brilhante. Lá eu sou por volta de número 50 de 65 jogadores por enquanto… Acredito que ainda vão entrar outros peixes grandes.
Agora, o time é de 3! Krikor chega pra viajar o resto dos torneios comigo, e El Debs joga seu último da turnê européia.
Entre os nomes de peso, estão Kamsky, Movsesian, Jakovenko, Jobava. Depois desse torneio, um blitz em Dordrecht, na Holanda, e um descanso merecido. No dia 26 de fevereiro, começa a segunda parte da viagem, em Capelle la Grande, talvez o aberto com mais jogadores da Europa! Normalmente o número fica entre 650 e 700 jogadores, todos no mesmo salão, como uma gigantesca família. Serei número vinte e poucos, e Sasikiran é o número 1 até o momento. Terminando a viagem um pulo na Islândia! O Reykjavik Open é o mais forte de lá, e dizem que o clima é bem agradável… Por enquanto uns 20 GMs de uns 100 jogadores, imagino eu. Sokolov e Baklan entre os favoritos.
Espero que a viagem tenha um final feliz e que a entrevista não tenha sido muito longa!
That’s all folks!
GM Alex Fier
Entrevista concedida ao AI Mauro Amaral e Guilherme Moraes.
Fier esqueceu de comentar sobre os meus palpites nas suas preparações, especialmente o famoso “h4”.