Entrevista com AI Pablyto Robert

Nome: Pablyto Robert Baioco Ribeiro
Título: Árbitro Internacional

Guiga: Com que idade você iniciou a jogar xadrez?
Pablyto: Comecei a jogar xadrez dos 12 para os 13 anos de idade. Vi dois colegas de escola jogando e me interessei. Procurei uma enciclopedia que tinha lá em casa, salvo engano o nome era “Conhecer” e encontrei as regras básicas do Xadrez. Ensinei a um primo e começamos a jogar…

Guiga: Como presidente da Federação Espírito santense de xadrez, você teve um grande destaque. Conte-nos um pouco sobre isso, e sobre quais os eventos e projetos de destaque realizado no período em que foi presidente (2003-2008).
Pablyto: Bom, assumí a FESX muito novo e sem experiência alguma. A Federação tinha problemas sérios, pois tinha pouco tempo que havia voltado à ativa. Tínhamos pouco material, o saldo da conta era ZERO e havia uma dívida de condomínio. Mas, estávamos com todas as certidões em dia. Com isto, conseguia elaborar os projetos de torneios para obtenção de pequenos, mas fundamentais, patrocínios junto à Pref. Mun. de Vitória e, com controle, consegui fazer com que os torneios fossem superavitários, sobrando toda a verba de inscrição para a Federação. Em pouco tempo quitamos toda a dívida com o condomínio e começamos a voltar às energias para o material. Terminei meu primeiro ano como Presidente com uma pequena monta em caixa, alguns jogos de peças e relógios a mais e sem qualquer dívida.Passamos de uma situação de 12 torneios por ano, para 50 a 60 torneios por ano. Desde o meu primeiro torneio como Presidente teve premiação em dinheiro. Fizemos muitos valendo FIDE e saímos de cerca de 8 jogadores com rating FIDE para mais de 50 em 3 anos apenas. Nosso cadastro de jogadores tinha 96 membros em Janeiro de 2003, quando assumí a FESX. Em Dezembro de 2008, quando entreguei, tinha quase 1200 cadastrados. Terminei meu período, deixando a FESX com muito material (especialmente 20 DGTs – 15 XL e 5 2010), além de um notebook para uso nos torneios. O caixa ficou abastecido também. Enfim, foram realizados muitos torneios, a Federação cresceu e ainda sobrou dinheiro em caixa para emergências. Tudo isto se resume a uma coisa: planejamento e foco no que foi planejado. Não precisei cobrar 1 centavo de anuidade de qualquer jogador durante os 6 anos em que fui Presidente.

Guiga: Após a gestão a frente da Fesx, veio a sua eleição como Presidente do cargo máximo do xadrez nacional. Explique-nos, porque decidiu tornar-se Presidente da CBX, quais os principais problemas encontrados no início da gestão, e quais os fatores positivos da CBX, desde que a assumiu?
Pablyto: Bom, essa é relativamente fácil de responder, muito embora a resposta seja longa como a da pergunta anterior. Mas vamos lá: Inicialmente, a vontade de me candidatar surgiu com o comunicado do Sérgio de Freitas, dizendo que não seria candidato à reeleição. Liguei para ele, pedi para reconsiderar (como muito fizeram) e ele explicou suas razões para abrir mão de prosseguir, apesar de ter feito um trabalho impecável frente à CBX. Eu, como praticamente qualquer um naquele momento, fiquei preocupado. E pensei que poderia usar minha experiência de Presidente de Federação para tocar o bom trabalho do Sérgio. Conversei com alguns amigos, especialmente o GM Darcy Lima e o AI Mauro Amaral, e recebí o incentivo e apoio para a empreitada. Os problemas que já recebí de início foram as ações da Fed. de SC e o problema com o Ministério do Esporte, decorrente de um torneio realizado no ano de 1998, cuja prestação de contas havia finalizado em 2002, mas, por um incrível passe de mágica, foi desarquivada e reprovada em 2007, passados mais de 9 anos da realização do evento. Este, por sinal, é o grande problema a ser resolvido hoje, mas passa muito mais por boa vontade política, do que por qualquer ação que possamos tomar tecnicamente, uma vez que já decorreram 12 anos. Como fatores positivos, posso destacar as conquistas nos torneios por equipes que o Brasil obteve, a inédita conquista da vaga para o Mundial, a ascensão de mais 03 MIs para o título de GM (Diamant, Krikor e El Debs – e já estamos correndo atrás para serem 04!), a excelente participação na olimpíada, as conquistas de comissões na FIDE, especialmente a criação da comissão de Xadrez Social, proposta pela CBX, com a presidência de um brasileiro (GM Lima), a realização do Continental (com recorde absoluto de participantes – 270), entre várias e várias conquistas que poderiam ser relacionadas aqui…

Guiga: Qual o apoio da CBX para o desenvolvimento do xadrez profissional (aos GMs e MIs), ao xadrez feminino e em especial ao xadrez escolar?
Pablyto: Nosso primeiro passo tem sido possibilitar a realização de grandes torneios (Continental Absoluto, Zonal 2.4 para ambos os naipes, Continental Feminino este ano, Torneio de Norma para o xadrez feminino – começa daqui 2 semanas, alguns exemplos apenas). Outro tipo de incentivo, é ajudar, dentro do possível, para que os principais atletas possam competir em grandes torneios no exterior…

O xadrez escolar, temos gasto um bom tempo com o desenvolvimento de um projeto mais amplo, que é o xadrez pedagógico. O grande problema é a implantação, pois depende de patrocínio e uma mudança de cultura que parte dos próprios educadores. Muitos torcem o nariz para o uso do xadrez como uma ferramenta pedagógica, seja porque veem como um “jogo” ou, quando muito, comoatividade esportiva.

Guiga: Ao longo desses anos tendo o xadrez como parte de sua vida, em 2006 tornou-se Árbitro Fide e posteriormente em 2009 Árbitro Internacional, explique sobre sua carreira como árbitro, o que o levou a tornar-se um, quais os principais eventos que participou?
Pablyto: Bom, eu comecei a arbitrar em 1999, porque no ES só havia um árbitro e o mesmo não podia jogar um torneio sequer. Daí eu resolvi aprender para revezar com ele. O pessoal gostou e o próprio árbitro (André Ribeiro) resolveu tirar o atraso de anos sem jogar torneios. Eu passei a arbitrar tudo. Com isto, rapidamente já era AR em 2000. Em 2002 veio o título de AN e, em 2004, eu poderia ter me tornado AI. Como já era advogado nesta época e também era Presidente da Federação, não tirei tempo para fazer o pedido do título, fui cuidando de outras coisas e deixei o tempo correr, mesmo estando na ativa, com força total. Em 2005 a FIDE mudou a sistemática e inseriu o título de AF, obrigatório para se tornar AI. Minhas normas se foram, tive que pedir o título de AF e fazer as normas para AI de novo. No mesmo ano de 2006 eu já tinha praticamente acumulado as normas necessárias, faltava apenas uma: torneio suíço com mais de 100 jogadores. Esta aí me atrasou a vida totalmente, só fui conseguir na olimpíada, em 2008. Fiz o pedido assim que voltei da Alemanha, mas a reunião do “Board” da FIDE foi apenas em 2009. Por um “deixa que a qualquer hora eu peço” eu demorei 5 anos para ter o título. Os principais torneios foram: Semifinais de Brasileiro (2001, 2002, 2003, 2004, 2009 e 2010), Abertos do Brasil (2002 e 2006), Regionais Sudeste (2007 e 2008), 05 Magistrais valendo norma de MI, Brasileiros Juvenil (2008 e 2009), FENACs (2008 e 2010), Zonal Feminino (2009) e Continental Absoluto (2009). Desses torneios, elencados como principais, apenas a Semifinal do Brasileiro 2001 eu não fui árbitro chefe, fui adjunto, mas na época era AR apenas. Ah, esqueci, teve a extinta Copa dos Campeões Estaduais 2001, onde fui árbitro principal, mesmo sendo AR.

Guiga: Sobre a questão de arbitragem ainda, em 2008, em Dresden (Alemanha), você arbitrou a Olimpíada, conte-nos um pouco sobre.
Pablyto: É uma sensação fantástica, Guiga. Você está ali, no mesmo ambiente que os maiores nomes do xadrez mundial, é um clima diferente de qualquer outro torneio. Só que o árbitro trabalha duro, não é uma festa não… A gente tinha que chegar 1h30 antes da rodada, ajustar todos os relógios, verificar se todas as mesas tinham planilha, preencher os cabeçalhos das planilhas, etc. Eu quase sempre arbitrava 2 matchs simultaneamente (nesta olimpíada, por exemplo, o AI Mauro Amaral não arbitrou 2 matchs ao mesmo tempo em nenhuma rodada). Em 11, devo ter feito isto em 8 rodadas. Tudo tem que ser perfeito, caso contrário o árbitro é punido…

Guiga: Porque jogar xadrez?
Pablyto: Sei lá… Acho que é o mesmo que perguntar para o Guga o motivo pelo qual jogava tênis ou ao Cielo a razão de nadar. Acho que cada pessoa tem talento ou se apaixona por algo e isto não tem explicação. Não dá para explicar, nunca imaginei que poderia amar tanto o xadrez como amei, e ainda amo, depois que conhecí (mesmo sendo um capivara daqueles que pendura em 1). Não tem como explicar… Não dá para ser piegas e dizer “porque faz bem para a memória, para a concentração, etc.”. Isto é resposta para outra pergunta (Por que inserir o xadrez nas escolas?). Quando a pergunta se dirige à esfera íntima de cada um, essa resposta não se aplica muito, porque da mesma forma que tem esses benefícios, outros esportes também tem.

Guiga: Espaço para considerações finais e/ou agradecimentos.
Pablyto: Apenas agradecer a você pelo espaço concedido. Agradecer ao Rafael, que fez a intermediação desse contato. E, por fim, dizer que está de parabéns pela iniciativa, por ser mais um divulgador do xadrez! Grande abraço!

Gostaria de agradecer ao Pablyto pela forma atenciosa que demonstrou ao conceder a entrevista. Gostaria ainda de parabenizá-lo pela excelente gestão frente à CBX, e lhe desejar sucesso no futuro!

Publicado por Guilherme Moraes

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *